Não é o quanto você ganha, ou o quanto você gasta…

   Um dos conceitos mais difundidos entre a comunidade FIRE (Independência Financeira e Aposentadoria Antecipada) é o de que mais importante que os retornos obtidos com investimentos são os aportes, ou seja quem vai te levar à IF não são os 0,3% a mais que você conseguir de lucro em um bom investimento, mas sim a sua capacidade de trazer dinheiro novo para aumentar seu patrimônio. Você pode explorar melhor este conceito no excelente artigo escrito pelo AA40 “POR QUE O QUANTO VOCÊ POUPA É MAIS IMPORTANTE DO QUE O RETORNO DE SEUS INVESTIMENTOS?”.





   Apesar do meu patrimônio estar ultrapassando os 3 milhões de reais esse mês, não sou nenhum gênio das finanças, muito pelo contrário considero que conquistei a IF através da “força bruta” dos aportes. Aposto que já notaram como reclamo do meu trabalho e da vida de escravo que levo, porém tenho plena consciência que sem ter trilhado o caminho dessa profissão nunca chegaria à IF. Sou extremamente  privilegiado no sentido de que a carreira que escolhi sempre me pagou um salário acima da média justamente por ser insalubre e extremamente especializada, um dia já amei tanto o meu trabalho que até o ouso dizer faria de graça, porém hoje afirmo categoricamente que a melhor coisa do meu emprego é que ele me paga o suficiente para poder larga-lo em um futuro próximo.

   Mas será que um bom salário é o suficiente para garantir a IF?  Prefiro pensar que receber altos rendimentos mensais ajudam porém não é o único fator a ser considerado. Se isso fosse verdade todos os meus colegas de profissão estariam também muito perto de conquistar a aposentadoria antecipada, porém a realidade passa muito longe disso. Alguns ganham bem mais doque eu por exercerem atividades extras dentro da empresa e mesmo assim percebo que nunca estiveram tão longe da IF, já chegaram a me pedir dinheiro emprestado para conseguirem levar as finanças até o final do mês, isso porque os bancos aqui da região não oferecem “cheque especial”. Custo acreditar que alguém ganhando 50 mil reais por mês não consiga fechar as contas do mês, eu particularmente teria dificuldades em conseguir tal façanha!

   Então se salários elevados não garantem a IF qual o segredo para se chegar lá? A resposta é óbvia, não importa somente o quanto você ganha ou o quanto você gasta, a independência financeira depende somente da distância entre esses dois fatores. Nada adianta ganhar muito e gastar muito ou então ganhar pouco e gastar pouco, o importante é o quanto você economiza no final do mês. Mas se fosse para escolher entre ganhar muito e gastar muito ou ganhar pouco e gastar pouco qual dessas opções vocês escolheria? A resposta parece muito óbvia, levar vida de rei ganhando muito e gastando muito, mas já parou para pensar que esse tipo de gente além de longe da IF também está acorrentada a uma vida de trabalho forçado para conseguir pagar por todos os bens que adquiriu? Isso mesmo, essas pessoas que levam vida de rei perdem o sono a noite por medo de serem demitidas, sabem que se perderem o emprego estão falidas no dia seguinte, seja por causa do cartão de crédito estourado, financiamento do carro ou prestação da casa própria. Da noite para o dia o rei vira o mendigo da corte, sem um tostão no bolso e cheio de dívidas. Já a pessoa que ganha pouco e gasta pouco se verá em um situação bem melhor caso perca o emprego, não fez dívidas, as contas mensais são baixas e a possibilidade de que venha a quebrar financeiramente antes de conseguir outro emprego são bem menores.

   Acho que já deu para perceber que em um mundo ideal a pessoa que busca IF deve procurar aumentar ao máximo a distância entre o dinheiro que entra e o dinheiro que sai, por mais óbvio que possa parecer eu mesmo demorei para perceber isso uma vez que deixei meu estilo de vida inflacionar conforme minha carreira progrediu. De um pequeno apartamento me mudei para uma casa, o carro usado na garagem virou um novo e as viagens para o litoral paulista se transformaram em cruzeiros pelo Caribe. Hoje vejo o quanto de dinheiro desperdicei ao me deixar levar pelo slogan do Honda City “O carro para quem está indo bem”, acabei gastando na “casa de quem está indo bem”, nas “viagens de quem está indo bem”, etc… Mas quem está realmente indo bem? A pessoa que vai de Honda City para o trabalho estressante ou aquele que vai de bicicleta ao mercado da esquina e depois curtir uma corrida na praia antes de preparar um bom almoço de segunda-feira com a família porque não precisa trabalhar naquele dia por ser IF?

   Me esforço ao máximo para aumentar a distância entre dinheiro que entra e o dinheiro que sai, recentemente tomei duas decisões importantes que foram, assumir novas funções na empresa (que aumentou meu salário  sensivelmente) e cortei algumas viagens de férias que tinha já tinha planejado. Esse último ano rumo à IF será de sacrifícios extremos, já estou sentindo os resultados desses esforços em ambas as pontas, os aportes aumentaram mas minha insatisfação pessoal e stress também. A vida que já era desequilibrado pendeu de vez para o lado ruim, se antes eu usava consumismo e viagens para amenizar todas as frustrações que tenho na profissão agora tenho que “engolir o choro”, aguentar esse último ano como homem, focar no resultado que desejo obter em maio de 2019 e usar isso como motivação para seguir até o fim. Confesso que a vontade de jogar tudo para o alto é grande, seja me entregando ao consumismo ou simplesmente dando um basta no trabalho. Semana passada fui dormir decidido que ao acordar no dia seguinte iria chutar o balde, pedir demissão para voltar ao Brasil, tentar eu mesmo vender a minha casa e depois partir para Bali. Felizmente minha cabeça voltou a funcionar e colocando tudo na balança vi que foi só o fruto de mais um dia ruim no trabalho.

   Sr IF365